Ah a Raiva, esse sentimento é como
uma sombra. É como a sensação térmica que sentimos no alto verão
do Rio de Janeiro: uma camada densa pairando sobre nós e sua
essência nos cercando por todos os lados.
Percebemos o início da Raiva como
uma nuvem escura que se forma quando somos destratados, maltratados
ou ignorados por desconhecidos, familiares ou amigos. Basta um toque
de algum de nossos semelhantes, um toque errado, ou a falta do toque
certo, para esse sentimento subir como uma nuvem pesada sobre nós.
E por que isso acontece? Como
desenvolvemos essa nuvem? Ou melhor, como permitimos que essa nuvem
fique pairando sobre nossa cabeça e, por fim, reagimos mal a ela?
Na verdade, essa nuvem representa um fardo, algo que não suportamos
carregar, mas também que não conseguimos identificar de imediato e,
assim, nos livrar.
Podemos também comparar a Raiva com
uma mochila muito pesada. Se quisermos carregar essa mochila,
precisamos retirar dela os objetos mais pesados, do contrário, será
melhor deixá-la quieta em algum lugar.
A Raiva tem enorme peso emocional.
As nossas neuroses somadas às neuroses das pessoas com quem
convivemos pode facilmente formar essa nuvem, esse peso emocional.
Afinal, neuroses estão por toda a parte. Nascemos dentro delas, pois
são inerentes a própria vida, que por si só é conflitiva. Ninguém
consegue parar a vida. Daí, nossa natureza inquieta. Carregamos a
vida conflitiva e inquieta dentro de nós. Mas e aquela nuvem escura?
Embora estejamos vivos, somos
diferentes da vida, nossos ritmos são diferentes. Podemos nos parar
quando queremos. Podemos relaxar. Temos ritmos parecidos com a
natureza, e devemos aprender com ela. É notável que mesmo durante o
alto verão do Rio de Janeiro, aquela camada densa de calor se
esvazia e a chuva cai impiedosamente nos aliviando, nos tirando do
sufoco.
E igual a natureza, devemos aprender
a deixar chover. Aprender a deixar sair as neuroses. Começar a
reconhecer e a retirar os itens mais pesados de nossas mochilas.
Exercitar a vontade interior de caminhar numa estrada mais leve.
Buscar diariamente a nossa própria Paz.
E podemos ainda usar a nossa
inquietude para aprimorar cada vez mais esse viver de aprendizado. Ir
mais fundo e aprender alguma coisa importante para nossa própria
vida. Com mais prática, aprender a cuidar de algo valioso para o
outro. E assim, seguir libertando-se dessa nuvem escura.
Acredite, pois, podemos deixar
chover.